No contexto de uma eminente votação das PEC 458/2010 e 150/2003 pelo plenário da Câmara e das eleições municipais de outubro próximo, a CNM / Confederação Nacional dos Municípios se declara visceralmente contrária a qualquer projeto que crie novas vinculações orçamentárias obrigatórias para os municípios e orienta prefeitos a pressionar os “seus” Deputados Federais a votarem pelo arquivamento das matérias. Enquanto isso, entidades, lideranças e parlamentares compromissados com a cultura debatem documento visando unificar nacionalmente as demandas e reivindicações do setor que serão apresentadas aos candidatos aos executivos municipais, solicitando que firmem compromisso.por João Baptista Pimentel Neto*
Matéria publicada no portal do IPM / Instituto de Pesquisas Municipais nos informa que a CNM
/ Confederação Nacional dos Municípios é totalmente contrária a
aprovação pelo Congresso Nacional de qualquer projeto que determine a
criação de novas vinculações orçamentárias setoriais obrigatórias aos
municípios, como é o caso, por exemplo, das PECs 458/2010, 324/2001 e 150/2003
que, caso aprovadas, tornariam obrigatório que os prefeitos municipais
destinassem e aplicassem, respectivamente 3, 2 ou 0,6% de seus
orçamentos anuais no setor cultural.
Também
através da notícia ficamos sabendo que a recente aprovação pela Câmara
da PEC 416 que cria o Sistema Nacional de Cultura, despertou a atenção
da entidade municipalista para a tramitação no Congresso destas outras
duas PECs e que a entidade já começou a orientar os prefeitos sobre o
“perigo” que a aprovação destas matérias significaria para os orçamentos
municipais, orientando “os prefeitos, secretários e demais gestores
entrem em contato com os deputados federais de suas regiões e peçam o
arquivamento desta matéria e da PEC 324/2001“.
Para melhor entendimento dos leitores deste Marv@da C@rne sobre os porques desta intensa movimentação das lideranças municipalistas em relação a este tema é necessário informar que a PEC 458/2010
torna obrigatória, independente do tamanho geográfico ou do número de
habitantes, a aplicação de nunca menos que 3% do orçamento municipal no
setor de Cultura. De autoria do Deputado Federal Dr Ubiali
(PSB/SP) a matéria tramita atualmente em regime especial e segundo o
portal da Câmara a proposição já está sujeita à apreciação do plenário,
etapa derradeira para a aprovação de projetos nesta casa legislativa. O
projeto, caso aprovado, deverá ser ainda submetido ao Senado Federal.
Já a PEC 324/2001 determina que “a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,
anualmente, nunca menos que seis (6) porcentos da receita resultante de
imposto, compreendida a proveniente de transferências, para a produção, a
preservação, a manutenção e o conhecimento de bens e valores culturais“. De autoria do Deputado Inaldo Leitão (PSDB/PB), esta PEC também tramita em regime especial e assim como a PEC 458/2010 está
pronta para apreciação pelo plenário, aguardando apenas decisão do
Colegiado de Líderes para que entre na pauta de votações.
Finalmente, apensada à PEC 324/2001 a PEC 150/2003 e,
portanto, também sujeita a apreciação pelo plenário da Câmara, a PEC
150, na prática apenas disciplina e normatiza os percentuais
obrigatórios dos recursos orçamentários que caberá a União, aos Estados,
Distrito Federal e aos Municípios aplicarem para financiamento do setor
cultural. O projeto é de autoria do Deputado Paulo Machado (PT/PA) e
determina, caso venha a ser aprovada, que “A União aplicará
anualmente nunca menos de dois por cento, os Estados e o Distrito
Federal, um e meio por cento, e os Municípios, um por cento, da
receita resultante de impostos, compreendida a proveniente
de transferências, na preservação do patrimônio cultural brasileiro e na
produção e difusão da cultura nacional” e detalha ainda que “Dos
recursos a que se refere o Caput, a União destinará vinte e cinco por
cento aos Estados e ao Distrito Federal, e vinte e cinco por cento aos
Municípios“.
Portanto, é
dentro do contexto de uma possível e eminente votação pelo plenário da
Câmara dos Deputados de pelo menos uma das duas emendas constitucionais
relacionadas ao tema que a CNM, através de seu presidente Paulo Ziulkoski inicia
uma mobilização contrária a aprovação das matérias e apresenta aos
atuais e futuros prefeitos argumentações que os possibilitem a convencer
nossos Deputados Federais a não votar, arquivar os projetos ou,
simplesmente derrubá-los na votação em plenário.
Assim é que apesar de declarar que “A CNM nunca se manifestou contra a valorização da Cultura do país e a preservação do patrimônio público“. E que, “pelo
contrário. Durante discussões da PEC 150/2003, que tem redação
semelhante à PEC 458/2010, a Confederação, na II Conferência Nacional de
Cultura, junto ao Conselho Nacional de Política Cultural do MinC /
Ministério da Cultura, apoiou o percentual estabelecido em nunca menos
que 0,6% para os Municípios“, o presidente da principal e mais
expressiva entidade municipalista brasileira dispara uma série de
argumentos e justificativas visceralmente contrárias a aprovação destes
projetos.
Entre tais argumentos e justificativas, Ziulkoski afirma que ”se
somados aos 25% de Educação e aos 15% em Saúde, 43% dos recursos dos
entes públicos locais estariam comprometidos. Sobraria para o prefeito,
57% de verba para o pagamento dos servidores e para investimentos nas
demais áreas, como saneamento, habitação, e assistência social”. E aproveita para cutucar o Governo Federal e o MinC, informando que “dados
da Execução do Orçamento Siga Brasil do Senado Federal constatam que em
2011 o valor transferido pela União aos Municípios para investimentos
em Cultura foi de apenas 3%“. E que, portanto, o projeto em análise
no Congresso Nacional pretende fazer com que o menor ente da federação
invista o mesmo ou até mais no setor. “Isso é um porcentual insignificante do Orçamento Geral da União”, afirma Paulo Ziulkoski.
Ainda segundo
Ziulkoski, não há como esperar que os Municípios, com destaque para os
pequenos, apliquem 3% do total de recursos em Cultura se a União, com
60% da arrecadação de impostos no Brasil, aplica esse porcentual. E
aponta que “Há incoerência nesta proposta, pois se o governo federal tem
dificuldade em repassar recursos para a área, imaginem os Municípios
com orçamentos totalmente engessados pelas obrigações constitucionais,
legais e de programas gerados por outras esferas governamentais”.
Neste quadro e novamente segundo o líder municipalista, “a
CNM reitera que a PEC 458/2010 (e portanto também a PEC 150) é
inviável, pois se trata de um encargo gerador de despesas, onera os
Municípios, exige estrutura de gestão que ampliará as despesas com
pessoal e fere a autonomia constitucional dos entes federados e orienta
que os prefeitos, secretários e demais gestores entrem em contato com os
deputados federais de suas regiões e peçam o arquivamento desta matéria
e da PEC 324/2001″.
No sentido
contrário, timidamente e num ritmo que considero ainda inadequado para
fazer frente a mobilização dos municipalistas, as entidades e lideranças
do setor cultural começam a também despertar de sua aparente letargia e
a dar maior atenção aos projetos acima referidos dentro do contexto do
processo eleitoral que se avizinha. Assim é que por proposta apresentada
pelo setor do audiovisual durante a última reunião da Frente
Parlamentar Mista em Defesa da Cultura realizada no mês de abril
aprovou-se proposta da elaboração de um documento listando as principais
demandas, reivindicações e uma agenda legislativa mínima que deverá ser
apresentada aos candidatos à Executivos Municipais nas eleições de
outubro próximo, solicitando aos mesmos que firmem compromisso com sua
implementação.
Ainda em fase
de elaboração, em última análise, o documento buscará fundamentar
propostas e unificar nacionalmente uma pauta de prioridades do setor
cultural em relação a esfera municipal de governo e poderá vir a ser uma
das principais ferramentas dentro do processo de mobilização e
participação do setor cultural no processo eleitoral que se
avizinha. Dentre as propostas já listadas, a aprovação da PEC 150 pelo
Congresso e sua sanção pela Presidenta Dilma Roussef recebeu aprovação
por unanimidade.
É necessário
porém que tal documento seja aprovado com a maior agilidade para que se
inicie imediatamente o processo de mobilização das bases municipais do
setor já que como se constata os “inimigos” da necessária ampliação dos
recursos destinados ao setor cultural já fizeram a sua “lição de casa” e
já estão atentos e mobilizados.
Finalmente é
sempre bom lembrar que sem a aprovação da PEC 150, todo o esforço que
vêm sendo empreendido há quase uma década visando a implantação de uma
política pública para o setor verdadeiramente viável e republicana,
iniciado pela aprovação pelo Congresso do PNC / Plano Nacional de
Cultura e, mais recentemente, do SMC / Sistema Nacional de Cultura, não
terá qualquer consequência mais expressiva para o fortalecimento e pleno
desenvolvimento da cultura brasileira.
* João Baptista Pimentel Neto,
o Marv@da C@rne é jornalista, cineclubista, gestor e produtor cultural e
atual presidente do CBC / Congresso Brasileiro de Cinema.
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