CULTURA PARA BELÉM
Esta carta foi baseada em três documentos
que inspiraram movimentos por melhorias para as cidades a partir da valorização
dos setores artísticos e culturais: A Carta Teatro para Belém, o Manifesto pelo
Projeto de Lei de Iniciativa Popular do Sistema Municipal de Cultura de Belém e
o Manifesto Arte Contra a Barbárie.
É a expressão do compromisso e
responsabilidade histórica de seus signatários com a idéia de uma prática
artística e política que se contraponha a práticas que não correspondam aos
ideais e ao potencial do povo de Belém.
Vamos usar uma metáfora
para expressar o pensamento:
Assim que nasce, a
criança precisa do leite materno. Nele
não estão contidas somente proteínas e vitaminas necessárias
a formação desse novo ser, pois muitas
outras coisas estão envolvidas no ato de amamentar: a imagem da mãe e sua
presença estabelecendo relação com a criança, o afeto e o toque, tão
necessários quanto o líquido que mata a fome. Essa é a forma ideal de ser
recebido neste mundo tão complexo, por um conjunto de ações que preparam o
homem, e ao mesmo tempo o acompanham pela existência, pois o ato de comer será
uma necessidade do ser humano durante a vida toda, assim como a afetividade, a
troca simbólica e o sentimento de pertencimento, pilares que sustentarão o
indivíduo.
Crescendo, somente
o leite passa a ser pouco para a alimentação, e também ao crescer, a criança
amplia suas necessidades de convívio, afetividade e trocas simbólicas com os
outros seres humanos, amplia o seu relacionar e o seu entendimento de mundo.
O mundo
contemporâneo, porém, confundiu valores, achando que tudo isso deve ser
mensurado monetariamente, tudo deve ser passível de comprar. Comida se compra,
mas para onde são encaminhadas as necessidades de afetividade e troca simbólica
do homem? Onde a carência humana vai buscar afago? Na sociedade consumista ele
é induzido a comprar um produto atrás do outro para saciar uma fome de algo que
nunca é saciado, ou ainda, mantida a insatisfação, recorre ao álcool, às
drogas. Será possível que é só isso a vida? Uma busca desenfreada para ter
coisas que nunca vão satisfazer...
Como me preencher?
Como pertencer ao mundo? Como falar e refletir sobre a vida? Como suprir esta
necessidade tão vital? e onde entra nisso tudo a arte?
A arte, a cultura,
é a representação do ser humano, um espelho de almas, é formação simbólica,
imagética, de valores éticos e estéticos, é onde o homem se vê e se compreende,
ri de si mesmo ou se emociona com aquilo que o irmana a todos os demais. É como
o ato da amamentação, é troca entre seres humanos, é a vida em questão. É algo
que realmente não tem preço. A valoração é de outra maneira. É
necessidade e direito do cidadão.
Numa cidade em que
se fortalece o movimento cultural e onde se dá condições para que a população
tenha acesso a arte, teremos, sem dúvida, desenvolvimento em várias áreas,
aumento da auto-estima da população, formação do pensamento crítico, incentivo
ao conhecimento e valores de cidadania, redução da violência, melhoria da saúde
e inclusive, haverá movimentação da economia, porque não? Setores culturais
fortalecidos trazem turismo, oportunidades de trabalho, movimentam
o mercado.
Uma cidade ocupada
por cultura e arte é uma cidade ocupada positivamente, os benefícios sociais
são inúmeros. Numa cidade como Belém, que tem um dos movimentos culturais mais
ricos em criatividade, inovação estética, pesquisa e atitude empreendedora, uma
nova visão política sobre a cultura e sobre a arte, pode gerar profundas
transformações sociais e o futuro agradecerá por querermos construí-lo hoje de
uma forma mais justa e mais poética.
Diversos movimentos e grupos
culturais, reunidos no Fórum de Cultura de Belém, com apoio do Presidente da
Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Belém e da Representação Regional
Norte do Ministério da Cultura estiveram empenhados em chamar a atenção do
Poder Executivo para a necessidade de mudanças na gestão cultural do
município e implantação de políticas públicas para a cultura, que atendessem
aos operadores da cultura e a comunidade de Belém, através da criação do
Sistema Municipal de Cultura de Belém e da adesão de Belém ao Sistema Nacional
de Cultura.
Como o Executivo se manteve à
distância, o Fórum de Cultura elaborou o Projeto de Lei do Sistema Municipal de
Cultura, no intuito de protocolar como Projeto de Iniciativa Popular, como
prevê a Lei Orgânica do Município de Belém. Foi às ruas, mobilizou os oito
Distritos Administrativos, realizou diversos atos culturais e participou de
outros tantos eventos, no intuito de coletar assinaturas de apoio ao PL. Aqui, agradecemos
a todos que assinaram o Projeto de Lei, pois demonstraram
a carência da população de Belém e o seu desejo de tornar mais poético o seu
cotidiano.
Nesse percurso, (o Fórum de Cultura
de Belém) teve oportunidade para discutir sobre o papel do órgão gestor da
cultura, sobre mecanismos de incentivo à cultura mais transparentes – como a
criação do Fundo Municipal de Cultura – sobre a ampliação dos recursos para a
área cultural, sobre a reestruturação do Conselho Municipal de Cultura e a
formulação do Plano Municipal de Cultura com ampla participação popular.
Para nós, Fazedores de Teatro de Belém,
Dançarinos, Músicos, agentes da Cultura Popular, Artesãos, Trabalhadores da
Cultura, Grafiteiros, Quadrilheiros, Circenses, e mais uma lista enorme de
setores da cultura, é de suma importância a sensibilização desta Câmara como organismo
parceiro na construção desta nova realidade, significa urgência na
regulamentação do Projeto de Lei. O Fórum de Cultura agradece
a atenção e a disposição desta Casa (CMB): pelo empenho do seu
Presidente em dialogar com os setores e com o poder Executivo para os
encaminhamentos necessários e o compromisso em por a matéria na sua pauta de
debates; pela disponibilidade do Presidente da sua Comissão de Cultura em por
seu gabinete no apoio total para a realização desta tarefa.
É de extrema
valia e considerado por muitos do Fórum de Cultura de Belém como uma vitória, que
a própria prefeitura esteja, hoje, de acordo, pois sinaliza que o Sistema
Municipal de Cultura que queremos será sancionado. Significa que o poder
Executivo de Belém reconhece, valoriza e estimulará o setor cultural, pelo
fomento democrático à produção, com formação, intercâmbio entre os gêneros e
manifestações da expressão criativa do povo, estruturação espacial e
preservação da memória. Significa que promoverá acesso da população através de
difusão descentralizada, a partir dos bairros; que reconhece a atividade como
possibilidade concreta de transformação social e que gerará uma interface entre
o setor cultural e a educação. Significa que garantira o direito constitucional
de ir e vir dos artistas e a livre expressão artística.
Para a efetivação
desta nova realidade, precisamos partir para uma série de ações, sociedade
civil organizada, vereança e gestão político-administrativa. Além da imediata
aprovação, sanção e regulamentação desta
Lei, algumas urgências já estão pendentes, como a convocação do Conselho Municipal
de Cultura para que este se atualize e para que haja abertura democrática e
oficial de continuação desse diálogo com os artistas e fazedores de cultura; a
reestruturação da Fundação Cultural de Belém – FUMBEL, como órgão gerenciador e
executor, com representatividades dos setores através da criação de gerências
específicas e a criação de uma Secretaria Executiva de Cultura de Belém.
É urgentíssima uma
tomada da cidade por paz e arte. A cultura é o
elemento de união de um povo, fornecer-lhe dignidade e sentido de
territorialidade, de nação. É tão fundamental quanto a saúde, o transporte e a
educação. É, portanto – tem que ser – prioridade.
O Fórum de Cultura
de Belém se coloca como sociedade civil pronta a cumprir seu papel dentro da
democracia, para a construção de uma Belém que possa suprir aos seus habitantes
a nobre fome da vida.
Belém, 08
de maio de 2012
ASSINAM ESTE DOCUMENTO AS ENTIDADES, GRUPOS E COLETIVOS QUE FAZEM PARTE DO FORUM DE CULTURA DE BELÉM:
Associação
Cultural Uirapuru
Associação
de Servidores da Fumbel – ASFUMBEL
Associação
dos Agentes de Patrimônio da Amazônia – ASAPAM
Associação
Folclórica e Cultural Colibri do Outeiro
Associação
Mosqueirense de Esporte e Cultura – AMEC
Associação
Multiarte, Multimidia Bafafá Pará
Associação
Paraense de Dança
Boi-Bumbá
Brilha a Noite
Boi-Bumbá
Estrela Dalva de Outeiro
Boi
Vagalume da Marambaia
Capoeira
Angola “Eu sou Angoleiro”
Casarão
de Memórias da Amazônia
Cia.
Cênica EXTRAordinários
Cia. De
Teatro Madalenas
Cia.
Exíbela de Dança
Cia.
Experimental de Dança Waldete Brito
Cia.
Nefesh de Circo e Teatro
Circo
Estrelas do Picadeiro
Circo
Etéreo
Circo Nós
Tantos
Circopaíba
Coletivo
Black Soul Samba
Coletivo
Rádio Aparelhagem Brasil
Coletivo
Teatro em Miniatura
Companhia
Moderno de Dança
Cooperativa
de Trabalho de Músicos Profissionais do Pará
Cordão de
Pássaros Bigodinho da Brasília
Cordão de
Pássaros Pipira da Água Boa
Entreatos
Espaço
Cultural Coisas de Negro
Espaço
Sócio Cultural Remelexo
Fórum
Permanente de Teatro do Pará
Grupo
Águia Negra de Icoaraci
Grupo
Artistas Independentes de Circo – GAIC
Grupo de
Carimbó “Os Africanos de Icoaraci”
Grupo de
Cultura Regional Iaçá da Luterana
Grupo de
Teatro da UNIPOP
Grupo de
Teatro e Dança Ismael Pinto
Grupo
Junino Tem Tem
Grupo
Kachola na Kumbuca
Grupo
Parafolclórico Tucuxi
Grupo
Paranativo
Grupo
Pororoca
Grupo
Vaiangá de Icoaraci
Instituto
Amazônico de Cultura da Terra Firme
Igara –
Estúdio de Animadores
In Bust
Teatro com Bonecos
Instituto
Ampliar de Mosqueiro
Mirai
Companhia de Dança
Movimento
Rede Dança Pará
Nação
Jovem
Palhaços
Trovadores
Ponto de
Cultura Ninho do Colibri
Ponto de
Cultura Rede Mururé da Amazônia
Ponto de
Memória da Terra Firme
Preto
Michel (Literatura marginal);
Produtora
Vida de Circo
Quadrilha
Furacão Junino de Outeiro
Quadrilha
Junina Remelexo Chamegoso
Quadrilha
Junina Roceiros do Allan Kardec
Singular
Companhia de Dança
Terra
Vibra
União de
Escritores da Amazônia
UNIPOP –
Instituto Universidade Popular
UESB –
União das Escolas de Samba de Belém dos 2º e 3º grupos
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